20 de julho de 2010

Pensando Assessoria

Rosângela Angelo*
Se formos pensar no sentido da palavra assessor, segundo definições encontradas na Wikipédia: (latim assessor,-oris, ajudante, auxiliar) adj. s. m.adj. s. m. 1. Que ou quem assiste ou assessora. s. m.2. Pessoa que tem como função profissional auxiliar um cargo superior nas suas funções. = adjunto, coadjutor 3. Juiz substituto.(fonte: Priberom) Assistente, adjunto, auxiliar; Coadjutor; Ajudante; de empresas, companhias, atividades,ONGs, governo etc. Ant: letrado que assistia ao juiz leigo para o ajudar ou letrado que acompanhava os embaixadores. Na Igreja Católica faz assessoria para determinada(s) pastorais, movimentos e setores que é convidado(a) para auxiliar, dar conselhos, ajudar, assessorar juntamente a CNBB, Regional, Diocese, Decanato (Micro-Região), Cidade, Paróquia, Comunidade Eclesial de Base(CEB) e Capelas.

Em se tratando do trabalho desenvolvido pelo Campo, se traduz numa metodologia adotada para estar junto com os grupos de base articulando, mobilizando, solucionando problemas locais que contribuirão para o desenvolvimento global de uma comunidade. Não podemos desconsiderar que o assessor apesar de ter um papel de estar junto, exerce uma forte influência no grupo (positiva ou negativa) e ocupa uma posição diferenciada dos membros do grupo, por ter que exercer muitas vezes a função de facilitador, porém de defensor dos objetivos e da missão institucional entre o grupo e a instituição que representa para que não se percam os pontos em comum desta parceria.

Ao longo dos quase 23 anos do Campo, esta metodologia foi se delineando como uma forma de efetivar e concretizar sonhos e projetos elaborados e executados em conjunto com estas pessoas dentro de um espírito de solidariedade, mas também de contribuir para tornar sua vida e a do seu entorno melhor.

Muitas vezes retomamos antigos projetos para que não se perca a história do grupo que se mistura a história do Campo. Como exemplo, podemos citar grupos como o da ASPA em que o retorno de uma assessoria mais constante foi necessária devido a um novo cenário. A rotatividade das pessoas nos grupos faz com que os trabalhos tenham características diferentes em determinados momentos. Grupos que já alcançaram sua sustentabilidade podem passar por momentos difíceis precisando ser revitalizados.

Na primeira fase da assessoria, buscamos identificar e conceitualizar os problemas existentes na situação específica em que se realizaria o trabalho, analisando as condições concretas da intervenção. Para esse levantamento inicial, podem ser feitas visitas pela comunidade, aos diferentes tipos de comércio, enfim, tentar identificar as potencialidades e os possíveis agregadores de potencialidades (igrejas, associações, comércios) que juntos poderão reforçar as demandas apresentadas.

Em espaços específicos de Educação, como é o caso dos CEICS (Centro de Educação Infantil Comunitários) são percebidas as forças que interagem com esses centros e como estão diretamente implicados (conselhos, órgãos públicos que credenciam/autorizam esses espaços a desenvolver o trabalho). Em certas ocasiões quando um determinado grupo procura o apoio do Campo, precisa de ajuda para mostrar que não estão sozinhos, que na comunidade existem outras pessoas que fazem a diferença na realização de um trabalho. Quando o grupo já tem uma história sistematizada ao longo do tempo, podemos utilizar esses documentos para um diagnóstico inicial e para conhecermos e fazermos uma contextualização desta realidade.

Num segundo momento, tomamos por base um diagnóstico mais global, a partir de uma análise de conjuntura nas diferentes esferas na quais este trabalho encontra-se envolvido. Quais as profundas e rápidas modificações estão sendo produzidas neste contexto e que podem refletir neste trabalho. Já num terceiro momento da atividade de assessoria, avaliamos as relações estabelecidas entre as pessoas e entre o assessor simultaneamente. Essa simultaneidade só varia de intensidade e a proporção, de acordo com os atores envolvidos e o ritmo de cada grupo.

Em todo processo de assessoria vários aspectos devem ser observados para que não fujamos dos objetivos institucionais. Em relação aos aspectos teóricos, devemos nos atentar sempre para a missão institucional, que deverá estar explicita na forma e nos instrumentos utilizados pelo assessor junto ao grupo para que nossas ações não sejam contraditórias aos nossos princípios.

Escutar os grupos no momento de assessoria pode contribuir de forma decisiva para profundas transformações e tomada de decisões. Entretanto, essa escuta só será verdadeiramente eficaz, na medida em que assessores e grupo se voltarem para uma análise crítica de seu próprio discurso e perceberem que as contradições entre teoria e prática, entre o dito e a prática real não se encontram apenas em um dos pólos da interação, mas que seja constitutiva de todos nós.

Ainda em relação a assessoria aos grupos comunitários, em discussões feitas anteriormente, consideramos que este trabalho exemplifica um processo de desenvolvimento, numa concepção Paulo Freiriana, onde as nossas ações devem ser precedidas sempre por reflexão e diálogo e que as mudanças são processos a serem construídos na medida em que nos concebermos sujeitos da nossa própria história, capazes de criar condições favoráveis, de tal forma que como agentes de transformação possamos realizar mudanças e outras ações sozinhos, em direção a um grau crescente de consciência e de autonomia da própria ação. A autogestão e a autossustentação é uma meta a ser alcançada por todos.

Questões a serem refletidas em uma assessoria feita pelo Campo:

- Nenhum grupo é igual a outro, cada grupo tem sua identidade suas demandas seus problemas e suas soluções, porém o trabalho comunitário que desenvolvem tem vários aspectos em comum e este é o sentido em se trabalhar em redes.

- Formas de Assessoria/Atuação

- In loco (direto nos grupos)

- Na rede

- Nos Fóruns/Conselhos

As habilidades e competências de um assessor estão voltadas para a utilização de métodos e técnicas em reuniões, avaliações organização de eventos, na resolução de conflitos, no compartilhamento de idéias e informações sobre os grupos, na criação de um clima favorável na gestão dos centros e dos Projetos (recursos disponíveis) e na motivação necessária para a realização das atividades.

A assessoria não pode ser oferecida. Os grupos devem procurar o Campo para apresentar sua demanda/necessidades. Não é o Campo que deve oferecer assessoria aos grupos comunitários e sim a instituições/ grupo de pessoas é que devem buscar a parceria para o desenvolvimento de um projeto.

Hoje temos uma situação atípica, mas que não foge aos nossos princípios na medida em que o nosso compromisso é o de divulgar e promover o trabalho dos grupos comunitários. Muitas vezes temos o nosso trabalho reconhecido por outras Ongs, e somos convidados a falar, dar consultorias ou a estar juntos em determinados momentos com órgão públicos propondo, falando da realidade dos grupos comunitários que vivem em periferia. Este reconhecimento parte do nosso diferencial que é estarmos presentes onde muitos profissionais não chegam, assessorando de forma mais intensa e processual. Mais do que isso potencializamos e organizamos essas iniciativas que parte de uma demanda real. Isso faz com que a nossa teoria nasça de algo experimentado, da prática de diferentes e diversas realidades. (*Professora e pedagoga, Rosângela Angelo coordena o Núcleo de Educação Escolar e Infantil e integra a equipe do Campo há 13 anos)