O Campo optou pela periferia.
28 de junho de 2012
A periferia precisa de mais atenção que o centro
*Cristiano Camerman
O que mais cresce no Brasil são os bairros
periféricos. No passado, os moradores do Nordeste vinham para o Sudeste em
busca de uma vida melhor e acabavam morando em favelas perto dos bairros
centrais. Este tempo passou. Morar numa favela em áreas centrais não é barato,
ainda mais nas favelas do Rio de Janeiro que já possuem UPPs (Unidade de
Polícia Pacificadora), a maioria nas zonas mais privilegiadas, mais centrais,
da zona sul e norte do Rio.
Estou cada dia mais convencido, depois de anos
trabalhando com grupos comunitários da periferia - opção que o Campo fez há 25
anos - que se todos os governos (federal, estadual e municipal) pensassem um
pouco mais nas periferias, a população brasileira estaria muito melhor. Vejamos
o caso de São Gonçalo, uma das enormes periferias do Rio de Janeiro: falta
saneamento básico, não há escolas para todos, nem saúde de qualidade, nem
urbanização ou serviços básicos como transporte eficiente e suficiente. Tudo
ainda é muito precário e não atende as necessidades locais. Mesmo depois de
dois mandatos de um governo federal que tinha como lema “um Brasil para todos”
e que fez seu sucessor, ou melhor, sua sucessora. Sempre que tenho oportunidade, em conversas
com responsáveis por instituições bancárias, relato a falta que agências
bancárias fazem a essa população. Desenvolver a periferia, com mais empresas, mais
serviços, mais saúde, mais lazer, mais esporte, mais transporte, mais educação,
mais cultura teríamos em poucos anos, um Brasil muito diferente do atual. Um
Brasil com acesso para todos e todas, como é muito falado e nunca será
realizado sem grandes investimentos na periferia.
Parceiros europeus do Campo têm voltado há muitos anos suas atenções para a região Nordeste
e a Amazônia. Afinal, o país é a
sexta economia do mundo e para eles está quase tudo resolvido no restante do
Brasil. Quando relato a situação das periferias das grandes cidades, eles se
espantam. Principalmente, porque as periferias das cidades europeias são
lugares bucólicos, onde os moradores vivem com espaço e conforto, quase
sempre melhor do que no centro da cidade.
Mas temos
esperança. Recentemente o governo federal anunciou uma linha especial de
crédito no montante de R$ 20 bilhões para investimentos em infraestrutura nos
estados. São recursos do Tesouro
Nacional liberados através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES). Segundo o governo, é a
maior linha de crédito já criada para os estados e que poderá ser usada por
qualquer um. Uma oportunidade e tanto para que os governos estaduais lembrem
das periferias. Há pouco se voltou a falar do metrô Niterói – São Gonçalo.
Metrô da periferia.
Durante a Rio+20, mais uma luz se acendeu. O Fundo Brasil
de Direitos Humanos lançou seu primeiro Edital Específico - Direitos Humanos e
Desenvolvimento Urbano. Em parceria com a Fundação Ford, o Fundo Brasil irá
doar até R$ 300 mil para apoio a projetos que tenham como pano de fundo a
defesa e a promoção dos direitos humanos de comunidades e grupos vulneráveis,
especialmente mulheres e negros, das regiões metropolitanas das capitais dos
Estados impactados por projetos de desenvolvimento urbano de grande escala e/ou
megaeventos esportivos, como a Copa. Será que nesse caso vão olhar um pouquinho
para as periferias?
Sabemos
que estamos em ano eleitoral e que obras nas capitais estão recebendo altos
investimentos como publicou o Jornal Valor Econômico em reportagem de capa no
dia 21 de junho. Levantamento feito pelo
diário em 21 capitais brasileiras revela que os investimentos aumentaram cerca
de 43,4% no início de 2012 o que representa algo em torno R$2,1 bilhões. Uma
vez mais me pergunto: será que vão estender esses investimentos para além das
regiões centrais das cidades?
Nós continuaremos lutando para que as periferias não sejam esquecidas.
O Campo optou pela periferia.
O Campo optou pela periferia.
(* Cristiano Camerman, coordenador geral do Campo )
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