29 de novembro de 2010

As UPPs são municipais ou estaduais?

                                                                                                                              Cristiano Camerman*

Na realidade, há mais ou menos dois anos converso muito sobre as UPPs e a periferia. A ideia das UPPs sem dúvida é muito boa e quando pergunto ao pessoal da Rocinha, que conheço tanto e onde morei certa época da minha vida, estão todos encantados com as obras do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento e com as Unidades de Polícia Pacificadora, embora, por lá ainda não tenham sido instaladas.

Mas como hoje o Campo trabalha mais com grupos comunitários de São Gonçalo, sempre disse que algum dia essa estratégia de ocupação traçada pelo governo estadual seria um grande problema não só para São Gonçalo, mas também para a Baixada Fluminense, zona oeste do Rio e toda periferia. Quando? Não sabíamos. Vimos pelos episódios da última semana que começou. Na Baixada e em São Gonçalo vem aumentando muito o número de traficantes. As UPPs instaladas na zona sul e zona norte do Rio expulsaram o pessoal do tráfico. Para onde iriam? Não seria possível dar a cada um deles uma Bolsa Família, portanto, eles teriam que sobreviver de alguma maneira e em algum lugar.

Ao governador interessam mais as zonas sul e norte da cidade do Rio. Mas ele é governador – reeleito democraticamente e, portanto, merecedor de todo respeito - não é prefeito da zona sul e norte! As periferias, áreas reconhecidamente mais pobres, não tem acesso as UPPs. Se ele tivesse pensado nas UPPs na cidade do Rio (um pouco menos) e também na periferia (um pouco mais), talvez os traficantes da zona sul e norte não teriam migrado tão rápido para a periferia. Sabíamos que só as UPPs não resolveriam o problema, mas se elas tivessem seguido outra logística quem sabe não estaríamos nessa situação hoje.

Estamos cientes da Copa e das Olimpíadas e da necessidade de deixar os trajetos e locais dos jogos seguros, mas não podiam ter lembrado das comunidades mais carentes? Mesmo aquelas distantes dos aparelhos esportivos como Palmeiras e Marinha, em São Gonçalo?

Depois de toda essa ação durante o final de semana o que percebo é que ainda estamos somente pensando na cidade do Rio de Janeiro e esquecendo das periferias. Claro que não é o CAMPO que irá resolver, nem temos essa pretensão. Queremos apenas nos manifestar modestamente sobre algo que as comunidades da periferia já sabiam e estavam sentindo nos últimos meses. (*Coordenador Geral do CAMPO)