17 de março de 2011

"Na semana do terremoto e do tsunami no Japão, o mundo... na bolsa, perdeu US$1 trilhão”.

Cristiano Camerman*
Entre as inúmeras notícias recebidas nos últimos dias sobre as conseqüências das catástrofes naturais que abateram o Japão, destruindo cidades, matando milhares de pessoas e desabrigando outras tantas, gerando um colapso de uma das sociedades mais organizadas do mundo, as perdas trilhardárias da bolsa de valores assustam. Mas até quando o homem irá se achar mais importante que a natureza, colocando o dinheiro acima de tudo? Sim, a economia também é importante, agora de que adiantará a economia sem o equilíbrio do meio ambiente? Quando vamos entender e aprender a lição? Alguns podem pensar: “ih, mas o Japão é longe”. É longe só que com a globalização podemos ser afetados de alguma forma. E as tragédias também estão próximas. Já esquecemos do que aconteceu há dois meses na região serrana do Rio? Percam uns minutinhos e pensem nisso. O que fazer? (*Cristiano Camerman, coordenador geral do Campo)

2 de março de 2011

Emprego, trabalho ou escravidão?

                                                                                                                                Elisangela Bandeira*

O Centro Comunitário de Emprego, popularmente conhecido como CCE, em São Gonçalo, completa um ano de trabalho e dedicação no apoio à inserção profissional dos moradores da região. Nesse período adquirimos algumas experiências que decidi destacar ao contextualizar sobre a atuação social do CCE.

Uma frase muito comum em nosso cotidiano: “Fulano quer emprego, não quer trabalho, pois trabalho não falta”. Essa frase nos remete a um tempo não tão distante, onde os escravos, desprovidos de educação, com suas culturas desvalorizadas, sem possibilidades de cuidar da saúde, vivendo em condições subumanas precisam depositar a força de seu trabalho para enriquecer os senhores.

Pensando sob essa ótica, no contexto comunitário essa situação nos parece muito atual, não?

Sabemos que muitas são as carências sociais vividas pelos moradores de áreas periféricas do Estado. Algumas delas o Governo vem suprindo, necessitando de alguns ajustes, mas atende a população, principalmente no que se refere à qualificação profissional.

Mas de que adianta qualificar se não pudermos oferecer à esses alunos um emprego digno da sua qualificação?

A maior parte das empresas ainda não é capaz de reconhecer as potencialidades intelectuais dos moradores de comunidades de base, pois se preocupam com a valorização de um papel assinado por uma unidade escolar que diz se ele é ou não capaz de exercer a atividade proposta, chamado de diploma ou certificado.

Não quero levar nenhuma bandeira contra o Ensino Médio, até porque como educadora, valorizo o aumento da escolaridade, mas me incomoda quando vejo pessoas sendo tratadas de forma diferenciada por não ter determinada formação técnica ou acadêmica.

Sem este diploma grande parte da população recebe oportunidades de empregos em áreas que nos remete aos tempos da escravidão. Longas jornadas de trabalho, que não permitem a ampliação dos estudos, salários baixos para trabalhos braçais que afetam a saúde, o único benefício é o transporte direto é o vale transporte, porque se for contar com a Previdência Social será difícil conseguir atendimento.

Será que essas pessoas não continuam escravas, enriquecendo os “senhores” empresários?

É necessário criar mecanismos mais humanos de valorização do trabalho intelectual dos profissionais, ampliando as chances de aumento da escolaridade e oferecendo benefícios mínimos que deixem claro o respeito da empresa por seus funcionários.

Algumas empresas estão avançando nesta questão, mas ainda existe uma grande maioria que não está preocupada com o ser humano que o proporciona influenciar na economia do país.

É o momento das empresas abrirem os olhos para o contexto comunitário que traz consigo uma cultura e um potencial intelectual muito grande, mas alijados da sociedade não conseguem mostrar seu valor, bom como os negros dentro das senzalas.

Pode ser que estejamos precisando de princesas para nos libertar, pode não ser a Isabel, mas quem sabe você. Basta que esteja disposto a tornar a sociedade mais justa e igualitária de fato como os agentes que atuam no CCE.  (*Pedagoga, Elisangela Bandeira é assessora do Núcleo de Desenvolvimento Local Comunitário do Campo e tem acompanhado o trabalho do CCE)