28 de junho de 2013
Passe livre para as periferias
*Cristiano Camerman
A discussão levantada
nacionalmente pelo Movimento do Passe Livre (MPL) formado por estudantes e que
se transformou no estopim de manifestações por todo Brasil - com uma gama de
protestos legítimos e adesão de outras categorias da sociedade que saíram às
ruas - veio ao encontro de um antigo dilema vivido pelo Campo na elaboração de
seus projetos.
Como é sabido, o Campo
optou por trabalhar com a periferia da periferia do Grande Rio há 25 anos. E
muitos de nossos parceiros, financiadores dos projetos que elaboramos com os
grupos comunitários que assessoramos nas periferias, são europeus. Não raro
devido ao valor das passagens necessárias aos deslocamentos dos grupos, ligados
numa Rede de Centros Comunitários de Formação Profissional, temos que diminuir
o valor destinado as ações. Para os parceiros é difícil entender o alto custo
das passagens, já que em muitos países da Europa as tarifas são baixas devido
ao subsídio do governo chegar às vezes a 50% ou 60%. No Brasil está na faixa
dos 12%.
Num primeiro momento o
Passe Livre, a tarifa zero para o transporte coletivo, pode parecer uma utopia.
Não é. É realidade em três municípios brasileiros como foi veiculado na
imprensa nos últimos dias. São municípios nos estados de São Paulo, Paraná e
Rio de Janeiro com populações que não ultrapassam os 100 mil habitantes e que
fazem uso apenas do transporte coletivo sobre rodas. Não há uso de transporte
coletivo por trilhos ou pela água. Segundo especialistas em mobilidade urbana,
a tarifa zero independe do tamanho do município. O que importa é o planejamento
técnico e financeiro. Há cidades de porte médio nos Estados Unidos com tarifa
zero, assim como também em Sidney na Austrália e Talinn, na Estônia.
Embora eu não seja um
especialista no assunto, me arrisco a dizer que no Brasil, além do subsídio do
governo ser aumentado, os contratos com as concessionárias que exploram os
serviços precisariam ser revistos e os lucros diminuídos. Todos teriam que
fazer a sua parte para chegarmos à tarifa zero ou a um valor mais acessível.
Senão para a população em geral, mas pelo menos para as periferias.
Venho insistindo que as
periferias precisam de mais atenção e todos com quem falo concordam, mas pouco
ou nada fazem. E as periferias tem crescido. Muito. Processos de transformação
nos espaços urbanos como a chamada gentrificação (tradução literal do inglês gentrification) onde áreas centrais
tradicionalmente ocupadas pela população mais pobre são revitalizadas,
reurbanizadas, resultam numa maior valorização imobiliária e consequente
exclusão desses moradores. Rumam para onde? Para as periferias. E às vezes para
as periferias das periferias. Regiões onde falta tudo, sobretudo, ofertas de
trabalho.
Então, não seria hora de
olhar para essa parcela da população que precisa se deslocar longas distâncias
e pagar altas tarifas para trabalhar e estudar? Viabilizar, quem sabe, a tarifa
zero ou uma tarifa menor mediante apresentação de comprovação de residência?
Isso ajudaria, inclusive, na empregabilidade. Cito como exemplo o caso de uma senhora
que faz faxinas e mora na periferia. Me disse que perdeu quase todos os clientes,
porque ninguém está disposto a pagar a sua passagem e ela não tem como arcar
com essa despesa.
Penso que está na hora de
refletirmos sobre o assunto e porque não, lutarmos por essa mudança.
(* Cristiano Camerman, coordenador geral do CAMPO)
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